Estava decidido. Ela iria terminar tudo e de hoje não
passava. O discurso já estava todo planejado em sua mente e nada que ele
dissesse poderia fazê-la voltar atrás.
Bateu a corrente na grade como do costume e rezou para que
não fosse ele a atender o portão. Doce ilusão...
Ela olhou pra ele e fraquejou por um momento. Ele parecia
tão abatido... Será que ele havia
almoçado? NÃO, não importava. Ela não iria desistir.
- Oi amor. Como você tá?
- Bem, e você? – Inferno, ele tinha que chamá-la de amor
justo HOJE?
- Não to muito bem. O
trabalho ta me matando.
- É, eu notei... Você almoçou? – Ela TINHA que perguntar.
- Não. – Já era de se esperar.
- Ta frio, melhor a gente entrar.
A casa estava silenciosa. Não havia ninguém com quem ela
pudesse adiar um pouco mais a conversa definitiva. Bem, melhor assim. Sem mais
enrolação.
- Amor, faz uma massagem nas minhas costas?
- Claro!
Droga, droga, DROGA! Aquilo era tão natural para eles que a
resposta saiu automática. Mas talvez não fosse tão ruim. Ela poderia evitar
seus olhos enquanto falava. COVARDE!
- Senta aí pra eu fazer sua massagem...
- Ta bom.
Chegou a hora, era agora ou nunca mais! Ok, ok, menos drama e mais ação, garota!
- Preciso te falar uma coisa...
- Eu também. Quase pedi demissão hoje. O dia foi péssimo!
- Sério? Ta tão ruim assim?
- Pior. Ta pior.
Ele não estava facilitando as coisas pra ela.
- Amor, você precisa ir embora cedo? – Amor de novo???? Ele só podia estar doente.
- Não posso ir muito tarde. Por que?
- Queria que você mexesse no meu cabelo pra eu dormir...
É, no fundo ela sabia que sua missão falhara no momento em
que ele disse o primeiro “amor”. Já que seu plano dera errado, por que não??
Ela iria lidar com a raiva depois...
- Então deita...
Ele deitou, ela se sentou na beirada da cama. Melhor não dar
mole pro azar.
- Deita comigo...
- Não, eu vou embora assim que você dormir.
- Por favor, deita comigo.
- Não.
- DEITA LOGO! Para de frescura.
Ah, a delicadeza que ela tanto adorava! Bem, a besteira já estava feita, de qualquer
maneira.
Deitou e começou a mexer em seu cabelo. Ele adormeceu quase
que imediatamente e ela só fazia pensar. Pensar em como ela decidiu ir lá e
terminar com ele e acabou deitada em sua cama, fazendo carinho pra ele dormir.
Bastou uma palavra, UMA ÚNICA palavra, para ela deixar seus planos de lado.
FRACA!
- Eu te amo...
- O que???? - Ela só podia ter entendido mal.
- Eu te amo.
- Eu.... Eu também te amo.
Ele sorriu e adormeceu de novo.
O que foi aquilo, então? Uma derrota com sabor de vitória ou
uma vitória com sabor de derrota? Difícil definir. E desnecessário também.
Nunca fizera sentido antes, porque faria justo agora?
Talvez essa fosse sua sina. Aproveitar as oportunidades em
que podia tê-lo assim, sem máscaras ou armaduras e depois amargar a dor, na
tortura de tentar saber quando teria a próxima dose.
Ela esperou alguns minutos, levantou, beijou sua testa e
sussurrou, sabendo que ele não ouviria agora:
- Não sei o quanto ainda posso aguentar, mas enquanto puder,
eu estarei aqui. Desculpe a franqueza...
Desculpe a fraqueza... Amo você.
E foi embora, com o coração cantando e sangrando. Quem sabe
na próxima ela conseguiria? Quem sabe...