terça-feira, 22 de maio de 2012

Ela sabe.

Estava decidido. Ela iria terminar tudo e de hoje não passava. O discurso já estava todo planejado em sua mente e nada que ele dissesse poderia fazê-la voltar atrás.

Bateu a corrente na grade como do costume e rezou para que não fosse ele a atender o portão. Doce ilusão...

Ela olhou pra ele e fraquejou por um momento. Ele parecia tão abatido...  Será que ele havia almoçado? NÃO, não importava. Ela não iria desistir.

- Oi amor. Como você tá?
- Bem, e você? – Inferno, ele tinha que chamá-la de amor justo HOJE?
- Não to muito bem.  O trabalho ta me matando.
- É, eu notei... Você almoçou? – Ela TINHA que perguntar.
- Não. – Já era de se esperar.
- Ta frio, melhor a gente entrar.

A casa estava silenciosa. Não havia ninguém com quem ela pudesse adiar um pouco mais a conversa definitiva. Bem, melhor assim. Sem mais enrolação.

- Amor, faz uma massagem nas minhas costas?
- Claro!

Droga, droga, DROGA! Aquilo era tão natural para eles que a resposta saiu automática. Mas talvez não fosse tão ruim. Ela poderia evitar seus olhos enquanto falava. COVARDE!

- Senta aí pra eu fazer sua massagem...
- Ta bom.

Chegou a hora, era agora ou nunca mais!  Ok, ok, menos drama e mais ação, garota!

- Preciso te falar uma coisa...
- Eu também. Quase pedi demissão hoje. O dia foi péssimo!
- Sério? Ta tão ruim assim?
- Pior. Ta pior.

Ele não estava facilitando as coisas pra ela.  

- Amor, você precisa ir embora cedo? –  Amor de novo????  Ele só podia estar doente.
- Não posso ir muito tarde. Por que?
- Queria que você mexesse no meu cabelo pra eu dormir...

É, no fundo ela sabia que sua missão falhara no momento em que ele disse o primeiro “amor”. Já que seu plano dera errado, por que não?? Ela iria lidar com a raiva depois...

- Então deita...

Ele deitou, ela se sentou na beirada da cama. Melhor não dar mole pro azar.

- Deita comigo...
- Não, eu vou embora assim que você dormir.
- Por favor, deita comigo.
- Não.
- DEITA LOGO! Para de frescura.

Ah, a delicadeza que ela tanto adorava!  Bem, a besteira já estava feita, de qualquer maneira.
Deitou e começou a mexer em seu cabelo. Ele adormeceu quase que imediatamente e ela só fazia pensar. Pensar em como ela decidiu ir lá e terminar com ele e acabou deitada em sua cama, fazendo carinho pra ele dormir. Bastou uma palavra, UMA ÚNICA palavra, para ela deixar seus planos de lado. FRACA!

- Eu te amo...
- O que???? - Ela só podia ter entendido mal.
- Eu te amo.
- Eu.... Eu também te amo.

Ele sorriu e adormeceu de novo.
O que foi aquilo, então? Uma derrota com sabor de vitória ou uma vitória com sabor de derrota? Difícil definir. E desnecessário também. Nunca fizera sentido antes, porque faria justo agora? 
Talvez essa fosse sua sina. Aproveitar as oportunidades em que podia tê-lo assim, sem máscaras ou armaduras e depois amargar a dor, na tortura de tentar saber quando teria a próxima dose.
Ela esperou alguns minutos, levantou, beijou sua testa e sussurrou, sabendo que ele não ouviria agora:

- Não sei o quanto ainda posso aguentar, mas enquanto puder, eu estarei aqui.  Desculpe a franqueza... Desculpe a fraqueza... Amo você.

E foi embora, com o coração cantando e sangrando. Quem sabe na próxima ela conseguiria? Quem sabe... 

Um comentário:

  1. Ela faz Cinema
    Ela é a tal,
    Precisando, recita o Melô do Rachadô,
    cheia de graça, sem pegar mal.

    bj da Mossa

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